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Tia Zulmira, tia do meu pai, irmã mais nova da minha avó paterna, a filha caçula que ficou solteira para cuidar da mãe... Lembro-me muito bem dela: uma pessoa doce, suave, discreta, meiga e carinhosa. Não lembro exatamente a idade que eu tinha, mas com certeza menos que 13 anos. Um dia, minha mãe chegou em casa após um encontro com tia Zulmira. Ela tinha chamado minha mãe para uma conversa séria. Minha mãe chegou assustada, aterrorizada, falando muito discretamente para meu pai, e eu estava bem perto e ouvi: tia Zulmira tinha uma ferida muito feia no peito.

Logo, foram juntos, ao Dr. Stersa, médico da família. Era câncer de mama, em estágio muito avançado. Nada a fazer. Tia Zulmira se foi em poucos meses. No seu jeito contido, discreto, acanhado, foi vendo aquele caroço crescer e se manteve fechada, quieta, para não incomodar; presa aos preconceitos. Quando abriu uma ferida, e ela se abriu, era tarde demais. E quantas tiveram a mesma história, o mesmo caminho, o mesmo desenlace...

Muitos anos mais tarde, por volta de 1984, já formado como médico, clínico geral e medicina psicossomática, vi surgir um dos poucos programas sérios de prevenção. O controle do câncer de mama no Brasil foi incluído no Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, que postulava o cuidado mais amplo, além de apenas a atenção ao ciclo gravídico-puerperal. Foi um marco histórico.

Na década de 1950, nos Estados Unidos, o autoexame das mamas surgiu como estratégia para diminuir o diagnóstico de tumores de mama em fase avançada. Ao final da década de 1990, ensaios clínicos mostraram que o autoexame apontava a presença da doença, mas não reduzia a mortalidade pelo câncer de mama. A partir de então, diversos países passaram a adotar a estratégia de breast awareness, que significa estar consciente para a saúde das mamas.

Essa estratégia de conscientização destaca a importância do diagnóstico precoce. A orientação é que a mulher observe e apalpe as suas mamas sempre que se sentir confortável para tal (seja no banho, ao deitar ou qualquer outro momento que achar oportuno, como a troca de roupas, por exemplo). O ideal é que se torne um hábito, sem necessidade de seguir uma periodicidade fixa, estimulando a descoberta casual de pequenas alterações mamárias suspeitas. Por incrível que hoje possa parecer, essa conscientização precisou de muito esforço, dedicação e empenho de várias entidades médicas, da sociedade e até das igrejas, para os tabus serem vencidos. Muitos anos se passaram, muitas vidas se foram para chegarmos ao que hoje parece ser algo muito natural, até festivo, como é o Outubro Rosa. Tanto tempo, dedicação, estudos, programas para se alcançar algo que no fundo é tão natural. O respeito à vida humana, à mulher, ao autoconhecimento do seu corpo e da sua individualidade.

Será que ainda teremos de ver muito sofrimento, inúmeras vidas se perderem, até se aceitar e compreender, que as emoções, a forma de viver, o anular a feminidade, é um ponto muito importante no câncer de mama? Por incrível que pareça, são ainda tímidos os estudos, os simpósios, os congressos, os sites, as reportagens que abordam e enfatizam esse fator fundamental na sua saúde e na doença.

Recentemente surgiu a psiconeuroimunologia – ciência responsável pelo estudo das relações entre as emoções, o sistema nervoso e as funções orgânicas – que vem demonstrando (da forma que o mundo de hoje acredita, por meio de números e imagens aquilo que os sábios povos da antiguidade (gregos, persas, hindus, chineses etc.) já sabiam, que somos seres integrados, cujos pensamentos e emoções influenciam na química, nos hormônios e no funcionamento do sistema imunológico. As emoções são uma energia psicobiológica de muita importância e são muito mais influentes do que se imagina.

Sem menosprezar o avanço que a terapia farmacológica e médica convencional, em certas sociedades há uma visão mais holística e moderna no que concerne ao tratamento do câncer mamário, que procura inserir um fator que é injustamente desprezado: os conflitos emocionais ocultados.

Há várias pesquisas mostrando que, em média, 54% das mulheres com histórico de câncer de mama apontaram fatores emocionais como tristeza, mágoa e rancor como causas para a doença. Outros estudos evidenciaram que o surgimento da doença tem relação com conflitos de morte, divórcio, separação de filhos ou de parentes etc.

O século XX trouxe mudanças profundas na sociedade, dentre elas o papel da mulher. Historicamente, eram as responsáveis pela realização do trabalho doméstico e, por isso, um trabalho privado e invisibilizado. Conseguiram às custas de muita luta, serem consideradas profissionais, serem aceitas no mercado de trabalho. Sua força produtiva, sua eficiência, seu papel fundamental como base da sociedade e o seu potencial foram finalmente aceitos e incorporados aos poucos. Muitas mulheres passaram a sustentar suas famílias, trabalhar em diferentes áreas do mercado e possuir os próprios planos de carreira. Mas tudo isso geralmente com um custo enorme. Frequentemente, o modelo usado para se posicionar foi assumir uma postura típica do masculino, negando, escondendo o feminino, não apenas na vestimenta, mas nas atitudes.

As mamas pertencem à função de proteção arcaica materna, presente nos mamíferos. Todas as crias, em todo o reino animal, necessitam do cuidado materno para assumir posteriormente o papel de adultos independentes. O tecido mamário tem utilidade vital na alimentação, proteção e vinculação emocional do bebê. Quando o cérebro materno vive em estresse emocional constante, no que concerne a essas funções básicas, o tecido mamário é o primeiro local a ser assinalado.

A mãe biológica ou uma mãe “simbólica” (alguém que não sendo mãe biológica assume emocionalmente como sendo uma mãe), quando vive estados emocionais de “desproteção”, “falta de apoio”, “insegurança familiar”, “ausência de cuidados”, “sensação de perigo no lar”, poderá levar ao chamado CONFLITO EMOCIONAL DE NINHO DESPROTEGIDO. Entendam como ninho a casa, o lugar, a residência, a família, que representa um local arcaicamente fundamental para a mãe exercer equilibradamente o seu papel biológico instintivo.

Num ninho podem existir dramas ruidosos ou silenciosos, e dependendo da carga emocional que cada mãe transporta, esta poderá converter-se numa constante tensão psíquica diária. Ao fim de um determinado tempo, a energia emocional reprimida pode transbordar para instâncias cerebrais que controlam a função de proteção mamária. Biologicamente falando, quando uma fêmea não sente as crias protegidas ou não se sente devidamente protegida, as células mamárias podem entrar num modo de funcionamento “rebelde”.

Os dramas no ninho são reais. Contudo, enquanto a mulher assumir um papel de vitimização na sua condição de mãe dentro do ninho, não terá a oportunidade de conseguir responsabilizar-se pela sua condição psicológica. Uma mãe não consciente de si mesma é um dos maiores perigos para a sanidade familiar. Os exemplos das mulheres da linhagem familiar feminina (mãe e avó materna) podem transmitir modelos transgeracionais de sacrifício, desapoio, insegurança ou desproteção, alimentando inconscientemente programas mentais em que se assume que MÃE = SOFRIMENTO.

Uma mulher com câncer na mama, muito frequentemente vive fiel aos dramas das suas mães, inconscientemente. Os modelos maternos terão que ser questionados numa mulher vítima de câncer da mama. Muitas mulheres-mãe vivem “amarradas” mentalmente a crenças inconscientes limitantes de sacrifício e desproteção materna, não procurando escolher um outro caminho para a sua vida.

O drama físico, emocional e psicológico em torno do câncer mamário mobiliza uma rede social de apoio e solidariedade, recolocando, de uma forma mais digna e merecida, o papel da mulher na sociedade. A beleza, o respeito e o orgulho feminino são qualidades que terão que ser obrigatoriamente resgatadas em alguém que sofre com esse drama.

 

Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista

 

 

 

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