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O tema suicídio não é um assunto secundário, para ficar escondido e intocável, como um tabu. É um ato de desespero, não é historinha, ou um ato filosófico, um ato de protesto, uma demonstração sociológica. Deve ser analisado e discutido de forma clara, honesta e com respeito, e nos ambientes apropriados. Para que as medidas de proteção contra o suicídio sejam tomadas, o risco desse problema deve ser reconhecido. Estudos sérios mostram que 90% dos suicídios são evitáveis. Essa tarefa cabe a todos nós.

Frequentemente esse assunto vem à tona apenas quando alguma celebridade comete suicídio, com subsequente foco efêmero da mídia e de forma sensacionalista. Ou vem quando somos tocados pelo drama de alguma família amiga. No entanto, esquecemos (ou ocultamos) o assunto logo em seguida.

No fundo, abortar esse tema é mais do que nunca um ato de valorizar a vida. Por ser um ato chocante, que vai contra o instinto básico da vida, desperta as emoções mais diversas nas pessoas, principalmente a impotência, o não saber e o respeito. A impotência, de todos, perante a morte, a constatação inexorável de que a vida é efêmera, que não se tem controle sobre ela e que ainda sabemos pouco sobre o ato da vida e da morte; o não saber, pois o real motivo do ato vai embora com aquele que se matou, e quem fica busca uma explicação para apaziguar o coração; o respeito, a dor de quem foi e a dor de quem ficou.

Trata-se de um processo multifatorial, uma conjunção de fatores, nos quais existia um sofrimento interno intenso e que, frequentemente, houve tentativas de comunicação, de expressão dessa dor psíquica.

As grandes crises, sejam individuais e/ou coletivas, existenciais, de identidade, traumáticas, financeiras, de relacionamento, são momentos de oportunidade, mas dependem de ação. Mas, para muitas pessoas, as crises não são vistas dessa forma. Por falta de estrutura psíquica interna, a morte se torna uma opção como escape daquela situação. Quando alguém pensa em suicídio, ela quer matar a dor e não a vida.

A cartilha da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, aponta os 3 D do comportamento suicida: desamparo, desespero e desesperança. E a OMS (Organização Mundial de Saúde) relaciona três características principais de um comportamento suicida: ambivalência (por exemplo: não quer morrer, mas aniquilar o sofrimento); impulsividade (o sujeito atua ao invés de colocar em palavras); e pensamento rígido (a inflexibilidade para compreender as adversidades da vida). Porém esses itens não aparecem isoladamente, mas sim numa composição.

A prevalência do problema do suicídio é maior na adolescência, que é uma fase de crise de identidade, de separação e a busca de sua posição no mundo, muitas vezes influenciada por uma visão de falta de oportunidades; e na velhice, quando as perdas se tornam frequentes, bem como as limitações, as restrições e muitas vezes uma falta de expectativa para a vida.

O suicídio é um processo no qual a pessoa vai definhando existencialmente. Para elas as coisas não fazem mais sentindo, vai perdendo o propósito da vida e a capacidade de sonhar. Os abalos, as frustações, as decepções, os traumas e os abusos não resolvidos passam a sugar a força e a energia da alma. E a luz vai se apagando...

SINAIS DE ALERTA

Os sinais de alerta se manifestam geralmente fora do contexto do momento, da conversa, do padrão habitual daquela pessoa. Frases como “Eu quero sumir”, “Eu quero morrer”, “Eu queria um botãozinho para acabar com tudo”, “Daqui a pouco vocês não vão ter mais preocupação comigo”, “Em breve não vou dar mais trabalho”, faladas de forma repetida e frequente são pequenos sinais de alerta da fragilidade da pessoa perante o sofrimento. São falas de falta de sentido na vida.

Nota-se que o brilho nos diminui. Os prazeres que antes eram parte da vida daquela pessoa vão sendo deixados de lado. O desejo de lutar, reformular e construir a vida não se manifestam. Há uma perda de interesse e a pessoa vai se desconectando do mundo. Vai se instalando um isolamento social.

O indivíduo se sente isolado dentro da sua própria dor. Vai se fechando cada vez mais no seu espaço restrito, seja o seu quarto ou na sua mente, não trocando mais com as outras pessoas, nem oferecendo nada. Começa a ter distúrbios no sono, descaso com a aparência e piora da autoestima.

Outras reações são alteração do humor, mudanças abruptas de comportamento, às vezes com picos de euforia sem muita relação com o cenário, e às vezes com apatia. Momentos com manifestação de sentimentos de ódio ou raiva descontrolados que antes não aconteciam, que não eram característicos da pessoa, começam a aparecer. São persistentes as sensações de vergonha, de culpa e de raiva de si mesmo por sentimentos ou atitudes que a pessoa acha inadequados.

O indivíduo envolve-se em situações de perigo contra a própria integridade física, seja em casa ou na rua, como se estivesse desconectado do senso de proteção. Pratica automutilação e possui sensação de medo constante da perda de controle do comportamento, das emoções, da vida como um todo.

Há algumas ideias muito equivocadas sobre esse tema, que só atrapalham e dificultam:

1. Quem ameaça não faz – Não é verdade, pois quem avisa mostra sinais, mesmo de forma indireta; já está pedindo ajuda e a um nível já crítico de sofrimento interno.

2. Suicidas não procuram ajuda – Muitos estudos mostram que cerca de 75% das pessoas que cometem suicídio buscou antes algum tipo de ajuda.

3. Pessoas mentalmente saudáveis não se suicidam – Não é verdade, pois algumas vezes o que se vê é apenas a superfície da pessoa. Um olhar mais atento pode mostrar que aquela pessoa não é mais a mesma, que seu brilho já diminuiu muito.

4. Quem sobrevive não tenta novamente – Também não é verdade. Estudos sérios mostram que depois de uma tentativa, aumenta em 100% a chance de a pessoa tentar novamente.

5. Não se deve falar sobre suicídio com quem fala sobre ou tentou, porque você poderia provocar – No fundo a pessoa está pedindo ajuda e não conversar. Não tratar só aumenta o desamparo e a solidão interna da pessoa.

6. Não há como impedir – Onde há vida, há esperança, há motivo para lutar e ajudar. Há como aprender a escolher como viver bem.

7. Só ricos não se suicidam – Sofrimento, perdas, sensação de falta de expectativa existem em qualquer classe social.

8. Suicida é um fraco – Não é correto pensar assim, pois são pessoas num sofrimento intenso e que sozinhas não consegue vislumbrar saídas, formas de viver diferente.

Suicídio e os processos destrutivos não são hereditários. Karina Okajima Fukumitsu, Pós-doutorada em Psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) e Coordenadora da Pós-graduação em Suicidologia, entende que os processos destrutivos são apreendidos. Foi a maneira que a pessoa teve para responder a adversidades que foi vivendo na vida e que não soube superar, e que se tornaram insuportáveis. Da mesma forma que se aprende a destruir, há como aprender a viver bem, a como vencer, a como superar as dores da existência.

A melhor vacina para o sofrimento existencial é o acolhimento, o respeito, o não julgamento discriminatório e pejorativo. Tenha uma atitude compreensiva, colaborativa e mais ativa. Ofereça, “empreste” esperança e confiança. Deve-se ajudar as pessoas a encarar de frente o sofrimento, a legitimar a sua história, se respeitarem e se amarem como elas verdadeiramente são e se autoconhecerem. Nos momentos de tsunami da vida, os pilares de sustentação são os nossos valores internos, nossos princípios, a força interior de cada um, que existem em todos, mas muitas vezes têm que ser trabalhados e desenvolvidos.

Por isso que é tão importante: a presença de pessoas com valores sólidos, sinceras, amorosas; famílias bem constituídas, reais amizades, relacionamentos sinceros e seguros; comunicação clara, transparência, empatia e pessoas de referência, como exemplo de valores éticos e morais. Assim se pode construir personalidades capazes de enfrentar os desafios da vida. A rede de apoio é fundamental.

Para aquelas pessoas que tentaram e que, felizmente, não alcançaram o suicídio, é fundamental trabalhar a ressignificação das percepções da vida e resgatar o prazer sobre ela, afinal, como diria o psicólogo americano Edwin S. Shneidman, “suicídio é um ato definitivo para um problema temporário.”

 

Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista

 

 

 

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