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Tarefa difícil falar de Elza Gomes da Conceição... mais conhecida como Elza Soares. Um texto não será capaz de expressar tudo sobre essa diva, mulher negra, favelada, casada, viúva, amante, guerreira, artista, estrela, premiada, operária da música brasileira e porta-voz de diferentes gerações, e que viveu até os 91 anos. Elza nos deixou em fevereiro de 2022. A voz e os hits que Elza Soares emplacou durante 60 anos de carreira sempre estavam conectados com sua própria história de vida e sobrevivência.
Foi favelada; foi obrigado pelo pai a casar aos 12 anos de idade; aos 13 engravidou; perdeu dois filhos que morreram de fome; ficou viúva aos 27 anos e com 5 filhos; não teve apoio da família... Com toda essa história e preocupada com a sobrevivência, ela encontrou na música uma forma de luta e de resistência.
Uma das canções mais executadas na voz de Elza é “A carne”, canção que retrata as questões raciais que assolam o Brasil diariamente. Apesar da naturalização das mortes de corpos negros, ela regravou a música dizendo que a carne mais barata do mercado não é a carne negra... E não deve ser.
Elza vive a clássica interseccionalidade que as mulheres negras atravessam – raça, gênero e classe – a opressão que coloca a mulher negra na base da pirâmide social. Negra, pobre, com talento incrível e com uma voz linda e afiada para mandar sua mensagem aos palcos, festivais e programas de TV, sempre com coragem respondendo que veio do “Planeta fome”, nome do seu último álbum.
A grande artista brasileira começou sua carreira no rádio em 1950 e emplacou também uma carreira internacional, sendo, inclusive, elogiada por Louis Armstrong, cantor e instrumentista, que foi considerado “a personificação do jazz”. Foi considerada a “voz do milênio” pela emissora britânica BBC.
Elza morreu 39 anos depois da morte de Mané Garrincha, o jogador de futebol com quem viveu um romance avassalador. Foram amantes e depois se casaram. Viveram vários momentos difíceis pela sociedade conservadora que culpava Elza como a “destruidora de lares”. Inclusive, ela canta sobre isso na música “Eu sou a outra”.
Apaixonada e sempre forte na luta da sobrevivência, Elza queria apoiar o jogador que estava indo mal na carreira e que começou a beber. O romance trazia para Elza um fogo no peito da paixão, o sonho de viver o amor, a dor da perseguição moralista da sociedade e dos problemas enfrentados com alcoolismo de Mané (como ela chamava Garrincha).
Elza perdeu outro filho e com isso tem um destaque impecável na interpretação da música “O meu guri”, de Chico Buarque. Sua interpretação retrata melhor do que ninguém a dor de mães que perdem seus filhos, assim como ela mesma viveu esses duros momentos. Elza também revela na canção “Maria da Vila Matilde” a violência doméstica.
Com idas e vindas, subidas e descidas na carreira, ela retoma com apoio de Caetano Veloso mais tarde. Seus últimos álbuns “A mulher do fim do mundo” (2016) e “Planeta Fome” (2019) foram sucessos de vendas.
Elza deixou um legado para a história do Brasil e da música brasileira. Com uma voz incrível e única, ela não só trouxe voz às classes periféricas, mas também às mulheres e à toda sociedade oprimida pelo racismo, marxismo e desigualdade. Elza empresta sua arte, sua voz, sua vida como inspiração de uma rainha negra brasileira que veio para cantar como forma de luta até o fim.
Elza estará sempre entre nós. Uma diva, uma deusa vai embora e deixa um legado de luta e resistência na música, na vida e até na morte, já que nos últimos anos já cantava sentada.
Elza Conceição Soares atravessa todas as gerações de fãs, de mulheres de qualquer idade e de estilos. Uma mulher negra que, apesar de todas as opressões da história escravocrata da sociedade brasileira, sobrevive e viverá sempre em nossa história, cultura e memória.
Elza deixa, na memória cultural do Brasil, musicais, homenagens, documentários sobre sua história e contribuição como “My name is Now”, dentre outros que estavam sendo gravados recentemente.
Que o brasil possa entender o motivo de sermos todos Elza, e que é nosso lugar de fala. Elza vive. Elza presente. Elza somos nós! Somos todos Elza! Elza nos representa e nós devemos honrá-la por ter atravessado tantos corpos independentes de gerações ou estilos musicais. Do samba do jazz, da bossa até o funk e outras fusões da atualidade. Elza e um ícone!
Por Terezinha Ribeiro
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