Tem coisas que falamos da boca para fora, num momento de estresse ou cansaço. No entanto, sabemos que aquilo que estamos falando são palavras vazias, palavras sem fundamento, apenas uma maneira de extrapolar, botar pra fora. O problema é que as pessoas que ouvem essas palavras, especialmente as crianças, não têm o entendimento e discernimento para entender que estamos apenas nervosas ou extrapolando. No coração e mente delas, essas palavras geram confusão, dúvida e insegurança.
Trabalhando como voluntária em igreja e ministério por tantos anos, já conversei com muitas mulheres e adolescentes que se sentiam inseguras do amor dos pais por coisas tão “bobas” do ponto de vista deles. Mas para quem ouviu essas palavras, elas não parecem bobas ou sem significado; pelo contrário, caíram como espada que machuca a alma.
Então, aqui vão três frases que, como mães, muitas vezes temos o costume de falar da boca para fora, mas que pode gerar feridas em nossos filhos.
“Um dia eu vou sumir, desaparecer, daí vocês vão sentir a minha falta!”
O que me levou a escrever este texto foi uma conversa que tive com uma mulher já adulta. Ela estava me contando que, frequentemente, ouvia sua mãe dizendo que ia sumir, desaparecer, sempre que ela ficava frustrada com alguma atitude dos filhos ou se sentia sobrecarregada com o trabalho de casa e cuidado com os filhos. Essa mulher me contou que um dia, com raiva, a mãe disse isso e saiu de casa por algumas horas, deixando os pré-adolescentes sozinhos. Eles já não tinham o pai e ficaram muito magoados.
A mãe contou pra vizinha a história, dizendo que, quando chegou em casa, viu os filhos com os olhos arregalados e cara de assustados, achando engraçado. Os filhos, ouvindo a mãe contar a história para a vizinha como se fosse algo engraçado, ficaram ainda mais chateados. Ameaçar, falando que vai sumir, “que o dia em que eu morrer vocês irão me dar valor”, ou que “o dia em que eu desaparecer aí vocês vão ver”, não resolve as dificuldades e gera nos filhos um sentimento de insegurança, instabilidade e medo.
“Eu não aguento mais!”
Como mães, temos momentos de sobrecarga e cansaço. Várias vezes descontamos em nossos filhos a frustração com outras coisas da vida que nem são culpa deles. Estressamo-nos com a criança que derrubou o suco, quando, na verdade, derrubar um suco é algo normal do crescimento e aprendizado da criança.
O problema não é o suco derramado, mas o nosso trabalho, o relacionamento com o marido, o fato de assumir mais responsabilidades do que poderíamos... Assim, quando o filho derruba um suco ou pede ajuda com a tarefa escolar, explodimos com eles. Não podemos gritar com nosso chefe e falar que já não aguentamos mais. Mas nossos filhos são crianças, estão debaixo do nosso teto e acaba sobrando para eles o peso do nosso cansaço e da nossa frustração.
No fundo, até sabemos que fomos injustas e que extrapolamos a raiva ou cansaço em cima da pessoa errada, mas é difícil controlar a ira. O problema com essa frase – “eu não aguento mais!” – é que nossos filhos passam a entender e acreditar que eles não são um motivo de alegria, mas um peso, como um fardo que causa a infelicidade e o cansaço dos pais.
Quantas pessoas, com as quais já conversei, que sempre se sentiram responsáveis pela infelicidade ou frustração dos pais? Quantas vezes eu mesma descontei nos meus próprios filhos frustração com algo, simplesmente porque eles estavam no lugar errado na hora errada?
Lembro-me de um dia em que fiquei tão frustrada e brava com meu filho porque ele não conseguia entender a lição de matemática. Esbravejei que ele não tinha prestado atenção na aula e que se ele tivesse se esforçado, teria entendido. Na verdade, estava brava porque tinha um monte de coisas “importantes” para resolver naquele dia e eu mesma estava tendo dificuldade em explicar aquela matéria para ele. Depois tive que pedir perdão e explicar para meu filho que o problema não era ele, mas eu.
“Enquanto você morar debaixo do meu teto, da minha casa, você não vai fazer isso ou aquilo!”
Essa é uma frase clássica das mamães e papais. Eu até entendo e acredito no princípio que está por trás desta frase, mas creio que precisamos colocá-la de uma forma diferente. O princípio que está por trás dessa frase, acredito eu, é que a criança entenda que os pais são autoridades e que a criança, o adolescente ou o jovem devem sim respeitar essa autoridade. Concordo 100% com isso.
O problema é quando colocamos a obediência da criança relacionada a estar debaixo do nosso domínio, e não uma obediência baseada em entender o porquê devemos obedecer e o porquê certas atitudes não são aceitas dentro do lar.
Se essa frase é repetida de forma vazia constantemente, sem ensino e direção atrelada a ela, gera na criança o desejo de sair, o mais rápido possível desse autoritarismo dos pais, porque a percepção do filho é que a casa dos pais não é a dele.
Tenho uma conhecida cujo pai sempre disse que debaixo do teto dele ela nunca poderia namorar. Ela, como toda jovem que sonha em conhecer o príncipe encantado, casou-se com o primeiro sapo que apareceu, para se livrar do autoritarismo do pai. O rapaz era viciado em jogos, e ela acabou se divorciando e tendo muitas dificuldades para criar a filha sozinha.
Em vez de falar “debaixo do meu teto você nunca vai fazer isso”, que tal ter um diálogo com o filho do porquê aquilo não é permitido, quais são as consequências daquela atitude, e que você, como pai ou mãe, está sim exercendo sua autoridade e não irá permitir aquilo, não simplesmente porque você é o dono da casa e paga as contas e isso basta, mas porque você se importa verdadeiramente com ele ou ela, e você sabe que aquela atitude vai levá-lo a caminhos difíceis?
Autoritarismo e desrespeito são bem diferentes de autoridade. Podemos e devemos exercer nossa autoridade como pais, mas sem humilhar nossos filhos. Crianças não devem ser o canal de escape sobre o qual descontamos toda nossa frustração e raiva.
Por Tathiana Schulze
Jornalista e Escritora