Tornou-se muito comum nos dias de hoje empresas terceirizarem várias atividades, seja por causa do custo ou por causa da facilidade.
Sou lembrada disso quando ligo para o serviço ao cliente do nosso provedor de tv a cabo. A pessoa que me atende logo vai me saudando: “Obrigado por ligar para a empresa X! Em que posso ajudá-la?” Aquela pessoa leva o nome da empresa e até toma algumas decisões. No entanto, ela não é parte daquela empresa, pois os serviços são terceirizados e ela não tem nenhum vínculo com a empresa X, mas sim com a empresa Y, que a contratou.
E nós, será que não estamos também terceirizando nossos filhos? Explico: eles levam o nosso sobrenome e adoramos postar lindas fotos deles para nossos amigos comentarem, mas temos transferido a responsabilidade do cuidado, a educação e a criação para terceiros, seja a escola, a babá, os avós, ou até a televisão.
Um dia desses participei de uma reunião de pais na escola do meu filho. Fiquei assustada com a quantidade de expositores oferecendo serviços destinados às crianças. Não é apenas escolinha de futebol ou balé. Agora tem escolinha de Lego, de xadrez, de arte, de culinária, de como fazer uma pipa e por aí vai...
Antigamente, a expectativa dos pais com relação à escola era que ele ensinasse seus filhos a ler, a escrever, matemática e ciências. Hoje exigimos que a escola assuma a nossa responsabilidade de educar nossos filhos, de prepará-los para a vida. Achei muito interessante um texto que li um tempo atrás, dizendo que o Ministério da Educação deveria se chamar Ministério do Ensino, pois educação se aprende em casa e não na escola.
Historicamente, e até do ponto de vista bíblico, a educação dos filhos sempre foi responsabilidade dos pais. Diz Deuteronômio 6:7: “Ensine estas coisas com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar.” Se olharmos para esse texto, vemos que a educação das crianças deve ser feita pelos pais e com persistência. Assim era antigamente: um filho crescia aprendendo do seus pais o ofício que ele executava. Enquanto observava o pai, conversavam sobre as coisas da vida, sobre caráter e identidade.
Claro que os tempos mudaram, a informação está disponível em uma velocidade e quantidade incríveis. Mas será que essas mudanças culturais nos desobrigam de assumir a responsabilidade pelo conteúdo da educação dos nossos filhos?
Creio que não. Não sou contra a escola e nem contra o apoio tão importante dos avós, amigos e outras influências sobre nossas crianças. Aliás, precisamos muito disso, tanto para nossa saúde mental e física quanto para o bem de nossos próprios filhos, pois não sabemos tudo e precisamos um da ajuda do outro.
Existe, porém, uma grande diferença entre receber apoio e terceirizar a educação de alguém, tornando outros responsáveis por ensinar aos filhos aquilo que cabe a nós. E quando falo de ensinar, não estou falando de sentar-se em uma mesa por 10 minutos e ler um pedaço de um livro juntos. Nossos filhos aprendem experimentando, vivendo. Se queremos educá-los e influenciá-los, precisamos passar tempo com eles. Precisamos tocá-los, precisamos demonstrar afeto. Em vez de enviá-los a escolinha do Lego ou de culinária, temos que nos sentar com eles, brincar de Lego ou fazer um bolo, e ali ensiná-los sobre a vida, sobre o serviço, sobre o amor.
Com as escolas reiniciando as aulas neste mês, lembre-se de que, ainda assim, a maior influência sobre a vida do seu filho é a sua. Procure se envolver na vida dele, conhecer seus amigos, falar sobre as coisas do dia, compartilhar hobbies e momentos bons. Não permita que o excesso de trabalho, ocupações e distrações roube esse privilégio que você tem de ser a maior influência sobre a vida deles.
Por Tathiana Schulze
Jornalista e Escritora