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Viktor Frankl, uma das figuras mais notáveis do século XX, que nasceu em Viena em 26 de março de 1905 e faleceu na mesma cidade em 2 de setembro de 1997, foi um neuropsiquiatra, fundador da terceira escola vienense de psicoterapia, a Logoterapia e Análise Existencial, uma das bases conceitual do meu trabalho.
Logos é uma palavra grega que significa sentido e a partir daí surge a logoterapia, que visa o sentido da existência humana, bem como na busca do ser humano por tal sentido. De acordo com a logoterapia, esse esforço para encontrar um sentido na vida é a nossa principal força motivacional. O papel do logoterapeuta consiste em ampliar e expandir o campo visual do indivíduo, de modo que todo o espectro daquele sentido potencial se torne visível e perceptível a sua consciência e vê na responsabilidade a própria essência da existência humana.
Já na adolescência, Frankl era fascinado por Filosofia, Psicologia e Psicanálise, e em pouco tempo começou a trocar cartas com Sigmund Freud e, por indicação deste, um dos primeiros manuscritos de Frankl foi publicado no International Journal of Psychoanalysis. Viktor Frankl tinha então 16 anos e no mesmo ano foi convidado a participar de um workshop de Filosofia, no qual pronunciou a frase que praticamente seria a pedra angular da sua vida pessoal e profissional:.
“Somos nós que devemos responder às perguntas que a vida nos faz, e a essas perguntas só podemos responder sendo responsáveis por nossa existência.”
Já como médico psiquiatra, ele fundou o primeiro programa privado de aconselhamento para jovens de Viena, trabalhando com pacientes problemáticos. De 1930 a 1937, como psiquiatra da Clínica Psiquiatra de Viena, cuidou de pacientes suicidas. No entanto, em setembro de 1942, Frankl, sua esposa e sua família foram presos e deportados, separadamente para diferentes campos de concentração. Sobreviveu por três anos em quatro desses campos, inclusive em Auschwitz, em condições sub-humanas. Teve que trabalhar em obras de construção de estradas e fábricas em condições climáticas extremas e totalmente desnutrido, e ainda servir como médico aos prisioneiros, mas sem as mínimas condições para tanto.
Quando foi preso já tinha um manuscrito sobre o sentido da vida, mas foi destruído com tudo o que mais tinha. Sentiu e viveu, literalmente, que tudo que tinha naquele momento da sua vida era apenas a sua existência nua e crua. Embora sua meta fosse escrevê-lo novamente quando estivesse livre, entendeu que antes de tudo o seu destino estava sendo viver o seu manuscrito naqueles campos e com os prisioneiros.
Nessas condições, a sua visão da psique e do ser humano foi confrontada com a mais miserável das condições e, ao invés de sucumbirem, se fortaleceram. Mais do que nunca, viveu a realidade que o impulso humano básico é capaz de fazer tudo o que é possível para permanecer vivo. A realidade ficava turva, e todos os esforços e emoções se concentravam numa única tarefa: preservar a própria vida e a vida de um companheiro. E que mesmo em situações mais extremas, perder a esperança é render-se às trevas.
Quando a guerra terminou em 1945, e voltou a sua Viena, Frankl ficou sabendo que todos da sua família tinham sido mortos. Mesmo assim, conseguiu escrever finalmente seu livro, em apenas nove dias de trabalho consecutivos. Seu propósito ao escrever a obra era transmitir ao eleitor, por meio de um exemplo concreto, que a vida tem um sentido potencial em qualquer circunstância, mesmo as mais miseráveis. E assim se tornou um dos maiores best-sellers.
Num mundo que não reconhece o valor da vida e da dignidade humana, que priva o homem da sua vontade e faz dele um objeto, só resta ao ego sofrer uma dura perda de valores. Se a pessoa não luta contra isso, num último esforço para salvar seu amor-próprio, perderá o sentimento de ser indivíduo, uma criatura dotada de espírito, de liberdade interior e de valor pessoal, para se considerar apenas parte de uma enorme massa humana, cuja existência se dá ao nível da vida animal. É essa liberdade espiritual (que não pode ser tirada de nós) que torna a vida significativa e plena de propósito. A consciência do valor interno de cada um está ancorada numa esfera espiritual mais elevada.
O filosofo alemão Friedrich Nietzsche falava que “quem tem um porquê para viver suporta quase qualquer como”. Ai daquele que não vê mais sentindo na vida, nenhuma meta, nenhum propósito e, portanto, nenhum motivo para prosseguir.
Um indivíduo que se deixe abater pela incapacidade de ver uma meta futura é invadido por pensamentos do passado. Há uma tendência a mergulhar no passado para ajudar a tornar menos real um presente muito difícil e doloroso. Mas há certo perigo em roubar do presente a sua realidade: torna-se fácil não enxergar ou desprezar as oportunidades que surgem. Tudo, de certa maneira, torna-se irrelevante. Nessas condições as pessoas se esquecem de que, muitas vezes, é exatamente uma situação de grande dificuldade que dá ao ser humano a oportunidade de crescer em termos espirituais, para além de si mesmo. Se não encaram as dificuldades como um teste da sua força interior, eles não levam a sério a sua vida e a desprezam como se fosse algo sem importância. Para esses, a vida perdeu o sentindo.
Aqueles que sabem como é íntima a ligação entre o estado mental de uma pessoa (sua coragem e esperança, ou a falta delas) e a imunidade de seu corpo, compreendem que uma repentina perda de esperança e coragem, com a vitória da desilusão, pode ter um efeito destruidor e mortal sobre a vida de um ser humano.
O vazio existencial é um fenômeno generalizado do século XX, o que é compreensível se considerarmos a dupla perda que o homem sofreu desde que se tornou um ser verdadeiramente humano. No início de sua história, o ser humano perdeu alguns dos seus instintos animais básicos que asseguram a sua existência. Com isso, teve que fazer escolhas. Posteriormente, sofreu a outra perda, a das tradições que sustentavam seu comportamento, que estão diminuindo cada vez mais rápido. Nenhum instinto lhe diz o que ele deve fazer e nenhuma tradição lhe diz o que ele deveria fazer. Em vez disso, ele nem sabe o que deseja fazer e acaba fazendo o que os outros fazem (conformismo) ou o que os outros desejam que ele faça (totalitarismo).
O vazio existencial se manifesta principalmente no estado de tédio. O sentido da vida difere para cada indivíduo, de hora para hora e de dia para dia. O que importa, então, não é o sentido da vida em geral, mas o sentido específico da vida de uma pessoa num determinado momento. Não se deve buscar um sentido abstrato para a vida. Cada um tem a sua vocação ou missão específica, uma tarefa concreta a cumprir. Nisso não podemos ser substituídos, e a vida não se repete. Assim, a tarefa de cada um é tão única e singular quanto sua oportunidade especifica de realizá-la.
Uma vez que cada situação na vida representa um desafio para o ser humano e lhe apresenta um problema a ser resolvido, a questão do sentido da vida, na verdade, pode ser invertida. Em última análise, o indivíduo não deve perguntar qual é o sentido da vida, mas reconhecer que é a vida que lhe está perguntando isso. Ou seja, não importa o que esperamos da vida, mas o que a vida espera de nós. O ser humano só pode responder à vida respondendo pela sua vida, ou seja, sendo responsável.
O sentido da vida sempre muda, mas nunca deixa de existir. Pode-se descobrir esse sentindo de três maneiras diferentes:
1) Na criação de uma obra ou na realização de uma ação, uma causa, um propósito para além de si mesmo, entregando-se a uma causa para servir. Na verdade, o ser humano precisa não de um estado interno sem tensões, mas de luta: a luta por um objetivo que a valha a pena, uma causa escolhida livremente.
2) Na vivência de algo, como a bondade, a verdade e a beleza da natureza, da arte, da música, da poesia, ou no encontro com alguém, ao viver plenamente outro ser humano em sua própria singularidade, amando-o. O amor é a única maneira de compreender o outro ser humano no âmago de sua personalidade, na sua essência, enxergando também o seu potencial, e naquilo que poderá se transformar, tornando essas potencialidades reais. O amor é o supremo e mais elevado objetivo a que o homem pode aspirar. O amor vai bem mais além da presença física do ser amado; ele se encontra no seu sentido mais profundo no “ser” espiritual daquela pessoa, seu “eu interior”. Se a pessoa está presente ou não, viva ou não, é algo que de alguma forma se torna irrelevante.
3) Na atitude que assume em relação ao sofrimento que se impõe a nós. Não esquecer que mesmo quando somos confrontados com uma situação desesperadora, diante de um destino que não pode ser mudado, também se pode encontrar sentido na vida. Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos. Não é necessário sofrer para encontrar um sentido, mas que o sentido é possível, mesmo a despeito do sofrimento inevitável. Diz o filósofo Spinoza:.
“A emoção, que da existência a um sofrimento, deixa de ser sofrimento tão logo formamos a seu respeito uma ideia clara e precisa.”
Se fosse evitável, o melhor a fazer seria remover sua causa, seja psicológica, biológica ou política. Sofrer desnecessariamente é masoquismo, não heroísmo.
A todo momento, o ser humano deve decidir, para o bem ou para o mal, qual será o monumento de sua existência. Qual a atitude, a ação que tomará. A sua existência depende do que ele faz dela a cada instante.
“Não temos o direito de fazer o que é errado, mesmo que o errado tenha nos acometido. Dentro dos limites de seus dons e do meio em que vive, o ser humano é capaz de tornar-se aquilo que faz de si mesmo.”
Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista
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