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Certa vez, enquanto preparava o jantar, meu filho me interrompeu. Instintivamente, eu estava prestes a dizer: “Filho, a mamãe está ocupada fazendo o jantar. Por favor, vá procurar algum brinquedo para brincar”.
Antes de pronunciar essas palavras, tive um daqueles momentos de reflexão e percebi quantas vezes estava usando a palavra “ocupada” como uma forma inconsciente de afastar meus filhos e transmitir que eles não eram bem-vindos naquele momento: “A mamãe está ocupada mandando um e-mail”; “A mamãe está ocupada limpando a casa”; “A mamãe está ocupada cozinhando”; “Agora não posso, estou ocupada dobrando roupas”; “Depois eu te ouço, estou ocupada conversando com uma amiga”...
Diariamente, temos a oportunidade de trazer nossos filhos para perto de nós ou afastá-los, de ganhar acesso ao coração deles ou fechar o canal de comunicação por meio dessa perigosa palavrinha: ocupada.
Naquele dia, enquanto preparava o jantar, percebi o quanto estava usando essa palavra e que, naquele momento, eu tinha duas opções: a primeira era responder novamente que estava ocupada e mandar ele procurar algo para fazer; a segunda era dizer que estava fazendo o jantar e perguntar se ele gostaria de me ajudar. A primeira resposta – “estou ocupada” – fecha o canal de comunicação e deixa claro que ele não é bem-vindo na minha vida naquele instante. Já a segunda abre o canal de comunicação e o convida a fazer parte da minha vida, do meu dia a dia.
Quantas vezes, sem perceber, enviamos a mensagem errada para nossos filhos, de que eles não são bem-vindos no nosso mundo? Por causa do perfeccionismo ou da pressa, criamos uma separação entre eles e nós, sem notar que estamos perdendo uma oportunidade preciosa de ensiná-los, de influenciá-los. Quando escolhemos a resposta “estou ocupada”, vemos resultados imediatos: o jantar fica pronto mais rápido, sem acidentes nem interrupções, e tudo sai mais “perfeito”. Quando optamos por convidá-los a fazer parte da nossa vida, no entanto, o resultado é a aproximação dos nossos filhos e a oportunidade de momentos únicos de aprendizado.
Vamos ter mais cuidado com o “estou ocupada”. Convide seu filho para lhe ajudar no jantar, fazer um bolo, lavar o carro ou caminhar juntos. Quando ele a interromper, veja essa interrupção como uma oportunidade de se aproximar dele. Quando convidei o Ian para me ajudar, ele veio correndo com um sorriso no rosto. A cada tarefa que terminava, me perguntava: “O que mais posso fazer?” Percebi que ele não queria que aquele momento acabasse.
Claro que temos responsabilidades e obrigações, mas não nos esqueçamos do que realmente é prioridade. A partir do momento em que nos tornamos demasiadamente ocupados para as pessoas que mais precisam de nós, que são nossos filhos, precisamos repensar nossas prioridades. Será que não estamos invertendo as ordens das coisas? Uma casa arrumada é a meta final ou é um meio para abençoar minha família? Ter um carro bom é a meta em si ou é apenas um meio de viver momentos agradáveis com quem amamos?
Se olharmos para a educação antiga, antes das universidades e escolas, o conhecimento era transmitido de pais para filhos. Jesus, por exemplo, aprendeu a ser carpinteiro com José. Hoje, com a educação terceirizada às escolas, muitas vezes acreditamos que as crianças não têm condições de participar do ambiente familiar. Por isso, quando nos perguntam o que estamos fazendo ou nos interrompem, respondemos impulsivamente que estamos ocupados, pois há uma segregação muito grande entre adultos e crianças dentro do lar.
A verdade é que as crianças amam ajudar seus pais e, com supervisão, podem sim fazer parte do dia a dia do lar. Inclui-las nas atividades diárias as prepara para o futuro e fortalece os laços familiares. Elas podem ajudar na preparação da comida, na limpeza da casa, no cuidado do jardim ou na lavagem do carro. Também podem acompanhar o papai ao mecânico ou ir junto ao supermercado, e isso sem um tablet para os distrair.
Que tal, quando formos interrompidos por um molequinho curioso ou uma menininha conversadeira perguntando o que estamos fazendo, em vez de responder que estamos ocupados, convidá-los a participar conosco daquele momento? Afinal, como diria o romancista C. S. Lewis, “nossos filhos não são uma distração para um trabalho importante, eles são o trabalho importante.”
Por Tathiana Schulze
Jornalista e Escritora
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