Liz Matos: Antes Que o Tarde se Faça Eternidade

Entre o instante e a eternidade: a noite em que a literatura ganhou corpo no Palacete Tira Chapéu

Há encontros que transcendem o ordinário — e há noites em que a arte, em suas múltiplas linguagens, se manifesta como experiência sensorial e existencial. Assim foi o lançamento do quarto livro da escritora Liz Matos, Antes que o Tarde se Faça Eternidade, celebrado em grande estilo no Palacete Tira Chapéu, no coração histórico de Salvador, Bahia.

Mais que uma sessão de autógrafos, o evento se configurou como uma ode à beleza em suas várias formas. Cerca de 400 convidados adentraram o salão nobre do casarão neoclássico para testemunhar não apenas o nascimento de uma nova obra, mas um verdadeiro rito artístico, elaborado com esmero e emoção.

Entre os presentes, nomes expressivos da literatura, música, fotografia e dança: Aleilton Fonseca, presidente da Academia de Letras da Bahia e autor do prefácio; Luiz Roberto Mattos; o fotógrafo Melo Bastos, responsável pela imagem de capa; o designer Ladislau Lucas; a fotógrafa Andrea Fiamenghi; o músico Eric Assmar, entre outros.

A noite seguiu como uma sinfonia de gestos e sentidos. Sob curadoria artística de Daniel Becker Denovaro e figurinos assinados por Fábio Sande, o espaço se converteu em palco para intervenções de música clássica e popular, dança contemporânea e cenas teatrais. As performances da família Denovaro — Alice, Daniele, Sofia, Elis e João — emocionaram a plateia. A cantora Fernanda Noronha, vinda dos Estados Unidos, arrebatou o público ao interpretar duas composições criadas a partir de poesias da autora. A atmosfera foi coroada pelo requinte do buffet da chef Flávia Sampaio e pela produção sensível de Cris Reis, com assessoria de Almir Júnior & Marcelo Gomes.

 

O verbo transfigurado: o que é um “Lizvro”?

Antes que o Tarde se Faça Eternidade propõe uma travessia entre tempo e sentimento, matéria e espírito. É uma obra que habita os limiares da prosa e da poesia, recusando-se a ser contida em definições estanques. No prefácio, Aleilton Fonseca cunha o termo “LIZVRO” para designar esse híbrido luminoso: “luz e Liz”, sintetiza ele com lirismo.

A imagem da capa — um presente do fotógrafo Melo Bastos à autora — foi capturada à margem do Lago de Garda, na Itália, com técnica de longa exposição. O céu em movimento, em contraste com a solidez do lago e das montanhas, espelha o cerne da obra: a tentativa de capturar o instante antes que ele se dissolva na eternidade.

 

Do silêncio à palavra: uma poética da permanência

Publicada em edição de luxo e disponível na Amazon, a obra marca a estreia oficial de Liz Matos na prosa poética — embora, como ela mesma afirma, essa forma já pulsasse em seus textos há anos:
“Escrevo nesse ritmo desde sempre, antes mesmo de saber que havia nome para essa entrega”, confidencia.

Sua escrita privilegia o fluxo emocional e a musicalidade interna da linguagem. Liz percorre os veios do tempo, do amor, da finitude, e os transforma em fragmentos que resistem à erosão dos dias.
“Cada palavra é um abrigo provisório contra o esquecimento”, ela declara.
De fato, há em sua obra uma tentativa comovente de deter a fluidez do mundo com a argamassa da linguagem.

Entre a Bahia e o mundo: uma voz em expansão

Natural de Salvador, Liz Matos construiu uma trajetória literária marcada por sensibilidade, elegância e rigor estético. Formada em Direito e Administração, começou a escrever na adolescência e lançou seu primeiro livro, Sopro do Tempo, no ano 2000, após vencer um concurso literário virtual.

Desde então, suas obras foram publicadas, encenadas, musicadas e celebradas. O Canto ao Amor… Entre Lágrimas e Sorrisos (2006) teve lançamento com concerto de harpa e ambientação temática no Instituto Feminino da Bahia. A Cicatriz e a Flor (2021) ousou ao incorporar trilha sonora autoral — disponível nas plataformas digitais — e ganhou edição bilíngue no Brasil e na Itália.

Em 2024, Liz foi homenageada em Porto Ceresio, norte da Itália, pela editora Edizioni WE, em reconhecimento à sua contribuição para a literatura de língua portuguesa. Integrante do Grupo de Escritores Brasileiros na Itália, ela reafirma, com Antes que o Tarde se Faça Eternidade, seu compromisso com uma escrita que honra a memória e celebra a estética.

Sua literatura é, antes de tudo, um gesto de resistência contra o silêncio — e um convite generoso à escuta profunda.

Para saber mais sobre a escritora Liz Matos, siga-a no Instagram: @acicatrizeaflor

(NOTA: Algumas informações e trechos desta matéria têm como base ou foram retirados do release oficial da escritora, fornecido pelo jornalista Roberto Pires)

 

Texto por Fernanda Noronha

Cantora, compositora e produtora cultural
Foto: divulgação