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Nesta crônica citarei muitos pensamentos e ideias de Epíteto, pela praticidade e eficiência de seus ensinamentos. Ele foi um filósofo grego e é considerado um dos principais representantes da escola do estoicismo. Nasceu no ano de 55 em Hierápolis (que hoje fica na atual Turquia). Faleceu aos 80 anos, na cidade grega de Nicópolis.

Epíteto dizia que “pensar com clareza é vital” e “proteja sua razão e ela protegerá você”. Reitero que quando Epíteto trata de razão, ele não se refere à razão banal que utilizamos para resolver pequenos problemas cotidianos. Ele fala da reta-razão, a que utilizamos para refletir, para buscar a essência das coisas, sempre amparada na coluna vertical dos nossos princípios e valores.

É importante aprender a pensar com clareza. A clareza de pensamento não é uma atividade que acontece por acaso. Ela exige um treinamento específico. É através dela que nós nos tornamos capazes de direcionar a nossa vontade, mantendo-nos fiéis aos nossos verdadeiros propósitos e descobrindo qual é o nosso relacionamento com os outros e os deveres inerentes a esses relacionamentos. Ou seja, todas as bases de uma vida verdadeiramente humana são construídas por essa razão e, por isso, devemos aprender a utilizá-la. Assim aprendemos a pensar por nós mesmos. É por isso que precisamos nos capacitar para ter ideias próprias. Isso nos defende de todo tipo de manipulação.

Nós estamos constantemente sendo arrastados por falácias e nem sempre nos preocupamos com a clareza dos nossos argumentos e pensamentos, o que pode provocar muita confusão e nos arrastar a decisões as quais, posteriormente, consideraremos equivocadas e dolorosas.

Inteligência é discernimento; é, sobretudo, encontrar dentre as coisas que nos oferecem o que realmente é coerente com os nossos princípios e encontrar dentre as coisas que sugerem que sejamos quem realmente somos. Dedique-se a compreender bem os mecanismos da clareza de pensamento e você não será ludibriado.

No momento atual, dentro da história da humanidade, em que há muitas maldades e exploração da fragilidade da personalidade humana, é importante lembrar um dos ensinamentos de Epíteto. No livro “A arte de viver”, mais especificamente no capítulo 27, ele diz que “o mal não é um elemento natural no mundo, nos acontecimentos e nas pessoas. Ele é um subproduto da preguiça, da negligência e da distração que surge quando perdemos de vista a nossa verdadeira meta na vida.”

Ou seja, assim como a etimologia da palavra defeito é defectus, que significa vácuo, vazio, o mal é exatamente aquele momento em que nós nos deslocamos do nosso autodomínio e não nos posicionamos conscientemente diante da vida tendo em vista nossa meta de crescimento como seres humanos. Esta meta é a apropriação de valores, virtudes e sabedoria. É quando nós nos dispersamos do ofício de viver como seres humanos que nasce esse vácuo, onde entram coisas que contradizem a lógica e o sentido da vida. Coisas que machucam e geram perdas, contradições e sofrimento. Portanto, o mal é vácuo de uma consciência ativa e comprometida com o sentido de vida verdadeiramente humano.

Ele também diz que “quando lembramos que a nossa meta é o progresso espiritual, voltamos a nos empenhar em nosso aprimoramento pessoal e mantemos o mal distante. E é assim que se conquista felicidade.” Ou seja, quando lembramos quem somos, onde queremos chegar, onde estamos agora e avançamos passo a passo conscientemente, não deixamos nenhum espaço para esse vácuo, vazio, defeito e mal penetrarem. A felicidade humana só vem quando sentimos que coincidimos com nós mesmos a cada dia, dando cada passo em congruência com a nossa verdade. Aquele que busca felicidade como um fim em si, acaba querendo pagar qualquer preço por ela e o problema disso é que alguns preços nos fazem deixar de ser humanos.

O que realmente vale a pena nesta vida? O que mais vale a pena é corresponder àquilo que a natureza espera de nós. Se não formos humanos, se não fizermos aquilo que nos particulariza na natureza como seres humanos, que é agregar valores à vida, o que nos sobra para fazer?

O que mais vale a pena é ter compromisso, dar o nosso melhor, pensar todos os dias em como contribuir um pouco mais, crescer para servir melhor. Dar o seu melhor em tudo aquilo que a vida pedir, fazer direito as tarefas de casa de hoje e estar quite com os céus e a terra cada vez que você se deita para dormir todos os dias e no dia que formos dormir o grande sono, isso é felicidade. É a consciência humana que torna o homem feliz. A alienação nunca será fonte de felicidade. Ninguém é feliz alienado.

Não importa tanto o pensamento das outras pessoas a seu respeito, quanto o pensamento da sua própria consciência sobre a sua conduta. Valem mais a transparência diante de nós mesmos e os rastros e marcas que deixamos no mundo.

A pessoa esperançosa sabe que só depende de si própria para crescer e que tudo mais virá por acréscimo. Ela dá e faz o melhor que pode pelo mundo, por ela e pelos outros, e dorme o sono dos justos. A esperança por dias melhores é proveniente das ações que tomamos para isso, e não o contrário, como tantas pessoas acabam fazendo, ao esperar por mudanças de forma completamente inerte.

A esperança é projetada ao crescimento interno do próprio ser humano, ao preenchimento, ao questionamento do que queremos ser e do florescer de virtudes, valores e sabedoria. É como uma expectativa de desenvolvimento de si próprio.

No capítulo 32 de “A arte de viver”, Epíteto diz: “Os acontecimentos são impessoais e neutros. Quando refletir sobre o futuro, lembre-se de que todas as situações evoluem como devem evoluir, não importam quais sejam os nossos sentimentos a respeito. Nossos temores e expectativas é que nos abalam e perturbam, não os acontecimentos.” Isso quer dizer que, se existe um conjunto de pedras em cima de uma montanha, mais cedo ou mais tarde elas rolarão de lá. Isso não é uma desgraça, não é uma perseguição contra nós. É simplesmente a lei da natureza seguindo seu curso. Portanto, não procure criar teorias da conspiração ou procurar culpados em tudo que acontece.

Os acontecimentos são impessoais, e as pessoas sensatas devem e podem reagir a eles de forma benéfica. Não dramatizar um acontecimento não significa, no entanto, não reagir a ele. Devemos fazer aquilo que é mais justo, quem trabalha para o bem, que é devido a um ser humano lúcido, racional e valoroso, que é dar aquela situação a resposta que ela merece, sem ficarmos nos vitimizando ou criando teorias e culpados sobre ela.

Epíteto reforça: “Em vez de personalizar um acontecimento, como por exemplo ‘o meu triunfo’, ‘a bobagem que ele fez’ ou ‘a minha desgraça’ e tirar conclusões desalentadoras sobre você mesmo ou sobre a humanidade, procure ver como pode aprender com os aspectos do acontecimento.” O filósofo define esse olhar sobre o qual estamos falando como o de um detetive, que busca extrair lições de cada fato e aplicar esse aprendizado quando algo semelhante ocorre no futuro. Para ele, é uma falha da imaginação não o fazer. A pessoa que mantém esse olhar não é mais pega tão desprevenida. Ela soma conhecimento, sabedoria e capacidade de resposta humana à vida e procura por benefícios para o seu crescimento e para o seu despertar, mesmo nas situações mais árduas e difíceis.

Contudo, essa postura requer uma grande dose de coragem e a falta dela que faz com que a maioria das pessoas insista em interpretar os fatos da maneira mais óbvia. Elas simplesmente os classificaram sempre como sucesso ou fracasso, bom ou mal e certo ou errado, por estarem escravizadas em um mundo dual. Só que a verdadeira essência humana está acima da dualidade.

O ser humano é um ser com muitas potencialidades que deve, em qualquer situação, parar e consultar seus princípios e seus valores, para verificar em que direção eles comandam o caminhar.



Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista

 

 

 

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