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- Tia, eu odeio ir para a escola. – falou um amiguinho brasileiro do meu filho. – Eu estou muito feliz porque agora é férias e tenho até dia 2 de agosto livre daqueles meninos.

- Mas João (nome fictício para proteger a identidade da criança), por que você odeia a escola?

- Os meninos fazem bullying comigo o tempo todo. Eles tiram tanto sarro da minha voz que eu vou para a escola torcendo para que nenhum professor me pergunte nada, pois assim não preciso falar nada. Eles tiram sarro porque sou imigrante. Me batem na frente das meninas para me humilhar. E para piorar, enfiam minha cabeça dentro do vaso sanitário. - E os professores não fazem nada?

- A diretora os suspendeu uma vez, mas ficou pior depois, pois eles ficaram com raiva de mim. A diretora me diz que eu não posso deixá-los fazerem isso comigo, mas o que eu vou fazer?

Ao ouvir as palavras do menino, meu coração doía, pois podia sentir a angústia e medo na voz dele. E não existe nenhum sentimento tão terrível quanto ao medo. Nenhum ser humano deveria viver refém do medo, muito menos uma criança ou pré-adolescente. Fiquei imaginando como esse menino deve acordar todos os dias, ansioso e com medo de ir para a escola.

Infelizmente, sei também que o caso dele não é uma exceção.

Conversava com um outro menininho que apenas tinha entrado na middle school e perguntei a ele se gostava. Conhecendo-o bem e quão respeitoso e dedicado ele é, sua resposta me surpreendeu:

- Na verdade não. Tem muitas brigas na escola o tempo todo. Eu não gosto disso. – disse o menino triste.

Lembro-me também de um dia, há dois anos, quando brincava em frente de casa com meus filhos pela manhã. Ouvimos vários carros de bombeiros e ambulâncias passando em alta velocidade dentro do condomínio onde moro. Depois fiquei sabendo da notícia: uma mãe acordou cedo para despertar seu filho para ir à escola. Era o primeiro dia do ano escolar e ele seria um sênior (se formaria na high school) naquele ano. Mas durante a madrugada, ele pegou uma arma do pai, foi até a parte de trás da casa, que era cercada por árvores, e tirou a sua própria vida. Ele preferiu se matar do que encarar o bullying que sofria ano após ano. A mãe, ao ver que ele não estava na cama, saiu em sua busca e o encontrou já sem vida no quintal. Imagine por quantas noites aquele rapaz passou angustiado com medo do que iria enfrentar em sua escola quando as aulas recomeçassem. Imagine o nível de dor e angústia em sua alma a ponto de decidir por algo tão triste.

Infelizmente, por vários motivos que não teremos tempo de discutir aqui, vemos que algumas escolas estão se tornando um lugar de insegurança e medo para as crianças. Ali, onde elas deveriam se sentir protegidas para aprender e desenvolver seus talentos, são ameaçadas por bullying, são iludidas para que usem vaping ou drogas, sentem-se com medo e algumas até terror. O que fazer ante essa situação?

1. Esteja atento

Nós, os pais, não podemos passar desapercebidos. Precisamos estar atentos aos sinais, conversar com nossos filhos, fazer perguntas e assegurarmo-nos de que eles não estão sendo vítimas de bullying ou sendo assediados por traficantes que agem dentro das próprias escolas.

2. Defenda seu filho

Quando meus filhos começaram a estudar neste país, uma pessoa que havia trabalhado por muitos anos no sistema escolar americano, inclusive como coordenadora, me disse: “Se você não for pelo seu filho, ninguém mais será. Aqui no sistema escolar, ele é um número. Você precisará ser a advogada dos seus filhos: ir à escola, pedir ajuda se ele tiver dificuldade de aprender, conversar com as professoras e diretoras, e fazer o que for necessário para que sua voz seja ouvida.”

Se perceber que seu filho realmente está sofrendo bullying, ou está sendo injustiçado, ou tem dificuldades de aprender, não fique parado com medo ou esperando que as coisas se resolvam. Vá a escola, converse com o diretor, solicite o serviço de tradução, e faça o que for necessário para que o problema seja resolvido.

E o conselho que aquela coordenadora me deu repito a vocês: a escola não é um lugar perfeito sem problemas. Esteja atento! Participe da vida dos seus filhos! Não deixe a correria do dia lhe cegar para os problemas que seu filho enfrenta. Não tenha medo de ir à escola, fazer perguntas, de se envolver na vida dos filhos. Se necessário, busque ajuda. Se o caso for grave, troque seu filho de escola, busque alternativas em escolas particulares que oferecem bolsa. Seu status imigratório não anula o direito de seus filhos serem tratados com respeito e dignidade dentro da escola.

3. Seja presente na vida dos filhos

Pesquisas mostram que quando o relacionamento familiar entre pais e filhos é forte e verdadeiro, as crianças e adolescentes tornam-se muito mais fortes para enfrentar o bullying e as dificuldades da vida sem que isso afete tanto suas emoções. Filhos que sabem que são amados e vivem em um lar estável também são mais propensos a fazer boas escolhas. Por isso, invista no relacionamento com seus filhos. Saia para tomar um sorvete, façam passeios juntos, converse, interesse-se pelos hobbies deles, tenha uma amizade gostosa com seus filhos. De que adianta estar neste país, correr tanto atrás de dólares e perder o mais importante que temos, que é nossa família?

* Este artigo menciona tema de suicídio. Se você ou alguém que você conhece tem pensamentos de machucar a si mesmo, procure ajuda imediatamente ligando para 911 ou 988 (telefone de ajuda a pessoas com pensamentos suicidas).

 

Por Tathiana Schulze
Jornalista e Escritora

 

 

 

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