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Quem nunca se sentiu culpado por alguma coisa que fez ou deixou de fazer? Pode ser por coisas consideradas “simples”, como devorar um pote de sorvete em plena dieta, ou por algo mais profundo como a angústia em um processo de luto por não ter tomado certa atitude, não ter dito algumas palavras importantes ou achar que fez pouco. Além disso, quantas vezes você deixou de se divertir em uma festa porque ficava pensando que deveria estudar para aquela prova? E você, que é mãe, que sente de vez em quando aquela sensação de observar que os filhos estão crescendo, mas não consegue acompanhar esse momento tão lindo pois seu trabalho está consumindo muito do seu tempo? E quem nunca se arrependeu por ter falado coisas que não deveria para a pessoa que tanto ama?

Sabe quando se vive uma situação e, ao se arrepender, deseja-se sair correndo porque se sente envergonhado? Outras vezes, ao invés do sentimento de vergonha – ou junto a ele – aparece aquela sensação de raiva de si mesmo e/ou da situação, junto com pensamentos do tipo: “Por que eu fiz isso?”.

Todos esses exemplos são do sentimento de culpa que, assim como as diferentes emoções que sentimos, ela tem uma função adaptativa, ou seja, é própria da natureza humana.

A Psicanálise explica a culpa como um sentimento emocional que está relacionado ao remorso e ocorre quando uma pessoa acredita ou percebe que comprometeu seus próprios padrões de conduta, ou violou os padrões morais universais, e tem responsabilidade significativa por essa violação. Também está relacionada a uma sensação ilusória de poder, de autovalorização, para tentar superar a real condição de insignificância (da pequenez) do ser humano. Em certa medida, o perfeccionismo e, consequentemente, a culpa por não ter sido perfeito, é consequência de um “delírio de grandeza”. O sentimento de culpa é a não aceitação dos defeitos, erros e falta de importância que tem cada indivíduo.

Há no nosso cérebro uma região chamada sistema límbico onde acontecem, fisicamente falando, todos os nossos julgamentos morais e a sensação de culpa e vergonha. Os psicopatas, que também são conhecidos como sociopatas, não sentem o remorso de ter causado algum dano a outra pessoa por não ter empatia. Em vez disso, eles racionalizam seus comportamentos e usualmente culpam alguém ou negam completamente terem culpa. Um indivíduo com psicopatia nunca se sentirá culpado, porque fará o que for preciso para levar vantagens, sem reservas ou limites.

Sabemos que todos nós já experimentamos situações que sofremos por nos arrepender de algo que fizemos ou deixamos de fazer. A diferença entre cada um de nós está na forma como lidamos com esse sentimento. Essa forma de lidar é aprendida e construída ao longo da nossa vida: desde a nossa infância até os dias de hoje. Não há um único fato que resulta na forma como lidamos com a culpa, mas uma série de acontecimentos que, de forma complexa e interligada, forma a maneira de enfrentarmos e enxergamos como somos hoje e como enfrentar as situações.

Torna-se preocupante quando, seja por insegurança, medo de errar, de se sentir vulnerável ou de desagradar e ser rejeitado, não se consegue assumir a responsabilidade pelos próprios atos e se projeta culpa nos outros ou na situação, encontrando assim a “boa justificativa” para continuar atuando do mesmo modo. Ao não conseguir administrar o sentimento de culpa, entra-se num ciclo frequente de negatividade, prejudicando a chance de se conhecer melhor e de aprender com o erro cometido. Quase sempre se trata de pessoas projetivas, inseguras (mesmo que não demonstrem) e com baixa autoestima.

O sentimento de culpa não trabalhado e resolvido é um dos piores problemas que pode afetar o ser humano, uma vez que o mantém preso ao passado. Traz uma carga negativa de crenças, afetando todos os pensamentos do indivíduo e influenciando como ele pensa a respeito de si mesmo. Ao invés de buscar alternativas e possibilidades, a culpa faz com que a pessoa fique apenas se lamentando e se sentindo mal.

Com frequência a pessoa que sente culpa se queixa de remorsos, tem diálogos internos de autoacusação e se vê como uma pessoa indigna. Geralmente apresenta insônia, pavor noturno, pesadelos e mau humor, além de tratar mal os outros, viver encontrando culpados para tudo, reclamar sempre e ter ansiedade. Podem ocorrer sintomas psicossomáticos que afetam principalmente o sistema digestivo, cardiorrespiratório e epitelial. Também pode apresentar sinais comportamentais, como comprar, comer e beber de forma compulsiva, sedentarismo e agitação.

Essa forma de se autodepreciar pode ser tão forte que pode até mesmo causar autoagressão, autossabotagem, pensamentos e comportamentos autodestrutivos (automutilação e até mesmo ideia de suicídio). A raiva sobre si pode levar uma pessoa a ingerir grandes quantidades de álcool ou drogas como uma forma de amenizar a sensação de vulnerabilidade, falta de controle sobre a vida. Outros ainda podem desenvolver doenças emocionais como a depressão.

A insegurança causada pelo sentimento de culpa pode levar o indivíduo a se considerar incapaz de realizar as responsabilidades mais comuns do dia a dia, como tomar decisões, cuidar adequadamente de si mesmo, iniciar novas tarefas, resolver pequenos problemas etc.

Existe também aquele sentimento de culpa que não é justificado, ou seja, ao ser analisado racionalmente no momento presente, não tem razão de existir, mas que está presente e atormentando continuamente a pessoa. Muitas vezes esse sentimento foi construído no passado, e a pessoa nem consegue se lembrar de que forma, ou o porquê.

Enfim a culpa, quando não bem resolvida, pode levar a um sério desequilíbrio emocional. Afeta a autoestima, traz sentimentos de desesperança, além de deixar a pessoa mais ligada ao passado, o que inviabiliza, por exemplo, a viver o momento presente.

O sentimento de culpa pode trazer algo de positivo, desde que venha acompanhado de aprendizado. Mas para isso é preciso enfrentar os desafios, os medos e assumir as responsabilidades.

A responsabilidade é uma alternativa que promove emoções positivas, nos levando a sentirmos ativos, empáticos, fortes e motivados para oferecer uma justa compensação pelo possível dano causado. isso prepara o indivíduo para novas rotas e evita que se tome as mesmas atitudes que tragam novamente o sentimento de culpa. Não é esquecer o que aconteceu, mas é reconhecer o erro e aprender com a situação. É a sensação de “lições aprendidas” e “vida que segue”. Isto propicia um melhor discernimento do que é sua responsabilidade ou não, o que pode e o que não pode ser feito, e uma maior aceitação das próprias limitações diante da vida. No início a responsabilidade assusta e pesa, mas ela é libertadora.

Ninguém nasce com sentimento de culpa. Ele é desenvolvido a partir das relações que estabelecemos na infância com pais, professores, cuidadores, irmãos, amigos e outras pessoas com as quais convivemos, e está ligado ao desejo de ser perfeito. Enquanto somos crianças, e totalmente dependentes de adultos, vivemos a necessidade de cumprir com as expectativas deles. O modo como cometemos os erros na infância (por vezes naturais para a idade) e como são vivenciados, é um dos fatores que influenciam na formação da personalidade e no modo como lidaremos com a culpa. Se for aceito como próprio da idade e estimulado a ser corrigido, tende a ser aceito e assim promove a superação e mudança de padrão, conduz ao aprendizado. Do contrário, se for vivenciado de modo traumático, desrespeitoso, agressivo e repetitivo, pode nos levar a acreditar que nós é que somos errados, e gerar sentimentos negativos de fracasso.

Segundo um estudo da Universidade de Reading (Inglaterra), as mulheres tendem a se sentir mais culpadas que os homens. Isso é fácil de entender, levando em consideração o processo social no qual ainda cabe muito mais às mulheres a educação doméstica e orientação dos filhos, além de cada vez mais as elas estarem inseridas e convocadas a assumir novos papéis profissionais para a manutenção das despesas familiares e buscarem também a sua realização profissional.

A maioria das pessoas não gosta de lidar com a frustração e o sentimento de culpa. No entanto, é importante saber encará-los como um incentivo. A culpa não é um sentimento cujo único propósito é fazê-lo se sentir péssimo sobre algo que fez ou não fez. Pelo contrário, o sentimento de culpa deve ser usado para nos alertar sobre algo, para que consigamos aprender a partir daquela experiência.

A culpa é algo que faz parte do nosso desenvolvimento enquanto seres humanos, pois é um alerta de que podemos estar agindo errado. Ela nos ajuda a reavaliar as nossas atitudes e a desenvolvermos uma melhor consciência sobre nosso comportamento.

A liberdade de ser quem é, para aprender e descobrir por si próprio o que traz felicidade, é o que muitos almejam na vida, mas não sabem por onde começar a trilhar esse caminho. Lidar com o sentimento de culpa é uma dessas etapas. Use-o para aprender mais sobre você mesmo!

No próximo artigo vou tratar de como trabalhar o sentimento de culpa e apresentar várias dicas.



Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista

 

 

 

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