O ser humano tem algumas dimensões e trabalharemos neste artigo sobre elas: corpo físico, mente e espírito. Há várias correntes de pensamento que apresentam e defendem que existem outras, mas para efeito de raciocínio para este texto, vamos nos ater a esses três: O corpo físico que é bem conhecido por nós; a mente que gera a forma de como pensamos; e a espiritualidade que nos faz transcender, conectarmos com algo melhor, maior, que a maioria chamada de Deus, mas também denominado de Divino, de Universo.
É muito difícil que uma pessoa possa viver sem ter certo nível de espiritualidade, pois é uma condição humana. Esse encontro com o divino é algo que vem em nós e é individual. A fé seria como um wi-fi que liga, conecta-nos com esse Ser maior, a esse Divino. A religião é uma das formas de trabalhar para se atingir essa. Mas se pode exercer a fé de outras formas, como com a contemplação da natureza, com a meditação e com ações ao próximo e à natureza.
Fé é uma palavra que significa “confiança”, “crença”, “credibilidade”. É um sentimento de total crença em algo ou alguém que, embora não se veja, no íntimo tem-se a certeza da existência. A palavra fé tem origem no grego pistia, que indica a noção de acreditar, e no latim fides, que remete para uma atitude de fidelidade.
Ter fé implica uma atitude contrária à dúvida e está intimamente ligada à confiança, e produz suporte, aconchego e sustentação. É mais um sentimento do que uma emoção. Fé se relaciona com positividade, com o melhor, com algo mais elevado, maior do que a existência e a nossa pessoa. Aquele que tem fé ganha conhecimento. Conhecimento e fé mantêm entre si uma relação muito peculiar de dependência: fé é condição sine quanon do conhecimento.
Fé é uma questão individual e tem relação com inúmeros fatores, dentre os quais a educação que a pessoa recebeu, o tipo de cultura e meio social em que viveu, e com a personalidade da pessoa. Por exemplo: uma pessoa muito perfeccionista, obsessiva, muito “São Tomé”, que só acredita no que vê, tem muita dificuldade em exercer a sua fé, ou senti-la ou se deixar ser conduzido por ela. O mesmo acontece com aqueles que são materialistas. Para esse grupo de pessoas, os princípios da física mecânica e newtoniana explicam e definem tudo.
Nessa forma de pensar e ver o universo, leva-se mais em consideração o tempo e o espaço, e se parte do princípio que tudo tem que ser provado, experimentado e constatado. É o que se chama de ciência atualmente. No entanto, nem tudo que se entende por fé pode ser medido, pois a fé não é algo material. A fé está em outra dimensão, fora do espaço e do tempo. No universo não existe o tempo; só existe quando se tem a matéria.
Já a física quântica é o reino da potencialidade, e se passa num universo onde os processos e os fenômenos físicos não são regidos pelo tempo/espaço. Um exemplo clássico, que muitos já devem ter vivenciado, é quando se pensa muito em uma pessoa, com muito carinho e intensidade, e a pessoa liga. Isso não é coincidência, um acaso; é uma comunicação. Isso mostra que aconteceu uma comunicação fora do tempo/espaço, pois nessa dimensão temos que ter algo material, tem que ter um sinal que conecta um ao outro, como um telefone celular, por exemplo. No caso da telepatia, ou da empatia, ou dessa energia que eu aciono o outro, é simultâneo, e a física quântica explica e mostra que isso é realmente possível. Assim, a fé na leitura da física quântica é um fenômeno totalmente natural e demonstrável.
Há vários estudos feitos através da ressonância magnética funcional que mostram que quando a pessoa está em um movimento de fé, seja em oração, em meditação ou em contemplação, são acionadas áreas do cérebro chamadas lobo pré-frontal medial e giro cíngulo. Essas duas áreas, quando acionadas, geram uma sensação de conexão com algo maior. É o exercício da fé. É como se acionasse um sábio interno que conecta com o supremo, e esse movimento traz calma, paz interior, acalento, aconchego. Nesse momento o aparelho de ressonância magnética funcional mostra, em imagens, essas regiões mais ativas. Ou seja, isso é uma prova de que nosso cérebro é preparado para fazermos conexão e acionarmos essa sabedoria interna.
Espiritualidade é prática, necessita de ações, como empatia (se colocar no lugar do outro), gentileza (se faz algo, tipo um sorriso, um beijo, que torna a situação mais agradável para aquele momento à outra pessoa), compaixão (uma postura de ação para mudar algo) e gratidão.
A gratidão, por exemplo, aciona um sistema de recompensa no cérebro que nos dá um sentimento de prazer e é o movimento em que mais se exercita a fé, pois esta é acreditar naquilo que eu não vejo, e gratidão é agradecer o que eu ainda não tenho, ou aquilo que tenho e, até mesmo não sendo uma coisa favorável, eu sei que pode ser uma coisa para o meu crescimento, para a minha evolução. Ou seja, a gratidão é um dos exercícios mais sublimes da fé.
O ser humano nasceu para se conectar com o outro, ele precisa confiar no outro, precisa desse contato direto. Com a fé, a espiritualidade faz com que esse contato seja com o divino, o além de nós, além do momento terreno.
Espiritualidade acolhe, traz um sentimento de confiança e isso melhora a imunidade, diminui o estresse, diminui processo inflamatório... enfim, contribui de forma positiva na saúde física e mental, inclusive na recuperação de doenças.
Sem espiritualidade não há felicidade. A espiritualidade nos dá a certeza de que não se acaba aqui e que há algo muito maior e supremo.
“Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.” (Pierre Teilhard de Chardin, padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês, que viveu entre 1881 e 1955)
Dr. Carlos Hanzani
Médico Homeopata e Psicanalista